O jogo das Cadetes da SIMECQ, em casa do Farense, tinha tudo para ser um bom espectáculo: uma equipa motivada, unida (e bem disposta), pronta a mostrar a qualidade do seu basquetebol. As nossas SIMECQuinhas conseguiram pôr em campo algumas das suas técnicas e todo o seu empenho, espírito de sacrifício e determinação. Estão de parabéns pelo grande jogo que fizeram!!
Infelizmente, dois árbitros regionais conseguiram ser os protagonistas, brindando-nos com uma nova versão (inteirinha) do livro das “Regras Oficiais de Basquetebol”. Houve alturas em que a dualidade de critérios foi tão evidente, que mais parecia que estavam a guiar-se por dois livros de regras distintos, um para cada equipa. Aqui vão alguns exemplos:
Regras Oficiais de Basquetebol 2008
Art. 38.3.1 Falta técnica
Uma falta técnica poderá ser sancionada contra um jogador por rotação excessiva dos seus cotovelos (sem que ocorra contacto).
Revisão (Guerreiro e Bartolomeu, Faro 2009)
“É permitido usar os cotovelos e os braços, desde que seja para garantir que o defesa mais próximo recebe uma massagem vigorosa na cara, no pescoço ou no peito.”
(O treinador do Farense, fervoroso adepto desta interpretação, chamava-lhe carinhosamente “body check”)
(…)
Regra nº 15
“A latitude pode influenciar o discernimento das equipas: a equipa de arbitragem deve ter esse factor em conta na marcação de falta, em particular as faltas técnicas, e proceder aos ajustamentos que se afigurarem necessários.”(…)
Agora, vejamos como podem ser aplicadas num jogo.
A passividade perante o uso ilegal dos cotovelos, do início ao fim do jogo, provocou algumas supresas, no mínimo. Descobrimos que, no Farense, o “body-check” consiste em usar os cotovelos e os braços para garantir que o defesa mais próximo recebe uma massagem vigorosa na cara, no peito, no pescoço… Graças a isso, a nossa Ticha veio para casa bem “massajada”: até ganhou uns adesivos na cara e tudo, para fechar o golpe resultante de uma cotovelada. Mas disso falaremos adiante.
A atitude para com as equipas técnicas foi, também, muito desigual: para o nosso banco, havia advertências “simpáticas”, traduzidas em duas faltas técnicas e um desconto de tempo não anotado, sem dar sequer explicações de algumas decisões tomadas; do lado do Farense, podia haver conversas com o treinador dentro das quatro linhas.
Na nossa equipa, que procura formar pessoas e, depois disso, também jogadoras, o que a tem tornado conhecida também pelo seu fair-play, duas atletas foram punidas com falta técnica (no caso da Ritinha, por soltar um “Ai!!” depois ter sido empurrada na frente do árbitro). Mas aguentaram empurrões, cotoveladas e outros “brindes” não sancionados pela dupla de arbitragem. Do lado do Farense, não só podiam fazer as faltas, como ainda podiam reclamar com os árbitros quando estes marcavam alguma delas, sem que isso se traduzisse em qualquer reprimenda adicional.
Voltando à Ticha… A 1:37 do final do jogo, num ressalto junto ao nosso cesto, ganho pela Pipa, a Ticha, que estava do lado contrário àquele onde a bola caíu, sai agarrada à cara, com o sangue a correr de um corte por baixo do olho. Confusão generalizada no nosso banco (a jogada foi mesmo ali à frente), para tentar ver o que se passava com a jogadora e para perceber o que tinha acontecido.
De acordo com o árbitro, foi a Pipa que empurrou uma jogadora do Farense, a qual por sua vez deu a cotovelada à Ticha. Ora, se a Pipa estava afastada da Ticha, como é que conseguia empurrar uma jogadora que, azar dos azares, se desequilibrou de tal forma que foi acertar em cheio com o cotovelo na cara da Ticha? E, se assim foi, porque é que não marcou falta à Pipa?? Estava já demasiado ocupado a dar uma falta técnica ao Sérgio, nosso seccionista, por este lhe ter dito que o golpe a sangrar na cara da Ticha tinha sido feito por um cotovelo?? Ou será que esta falta técnica foi porque o Sérgio se ia sentar prontamente, assim que o árbitro o avisou que ele não podia estar ali??
Para terminar em beleza um jogo que, mesmo com todas estas “ajudinhas” da arbitragem, estávamos a ganhar por dois pontos, quando soou o apito final conseguiram transformar um lançamento de dois pontos num de três. Graças a isso, nem sequer tivemos direito a prolongamento, e viemos embora com um saldo negativo de um ponto. Como os árbitros não se dignaram sequer cumprimentar as equipas no final do jogo (mas ainda tiveram um “tempinho” para continuar a provocar a treinadora), resta-nos especular!! Ora vamos lá a isso:
Apitar um jogo às 12h00 em Faro, com inúmeras interrupções (graças sobretudo à “brilhante” actuação da dupla de arbitragem), pode tornar complicado estar às 15h00 em Olhão, para apitar o jogo contra o Montijo. Um prolongamento podia estragar o almoço, que já ia ser a correr (e, pelos vistos, estava já de antemão programado para o McDonald’s).
Outra razão pode ter sido considerar que, quando uma jogadora tem um pé dentro e outro fora da área de dois pontos, conta só o pé que está fora.
Valha-nos que o jogo foi filmado, como o treinador do Farense confirmou no final. Esperamos que nos dêem acesso ao filme, conforme mandam as boas regras do basquetebol, mesmo sem termos de protestar o jogo, conforme nos disseram no final desta partida atribulada. O facto de o treinador ter dado o dito por não dito e de a dona da câmara a ter arrumado rapidamente e desaparecido ainda mais depressa, não devem ter passado de episódios provocados pelo atraso do almoço de domingo.
No final e já no corredor de acesso ao balneário, o árbitro Carlos Guerreiro, com um pé já dentro do balneário ainda disse à treinadora que ia ficar com o seu cartão. Resposta da treinadora: “Desde que escreva só a verdade no relatório, pode ficar com o cartão à vontade”.
Ora, como a SIMECQ recebeu um Fax a dizer o seguinte: "Vimos por este meio informar que foi mandado arquivar por falta de matéria disciplinar, o processo sumário instaurado à vossa treinadora…", o relatório deve ter sido fiel ao que se passou em campo!
Quanto ao filme, vamos continuar à espera, apesar de não servir de meio de prova, pelo menos mostra a equipa que teve melhor desempenho.
Episódios tristes destes não dignificam o basquetebol e são um péssimo contributo para um dos principais objectivos do desporto nesta faixa etária: educar a próxima geração, transmitindo-lhe os valores que defendemos.
Valha-nos que, felizmente, continuam a ser excepções. Temos de admitir que o trabalho dos árbitros é difícil e que é mais do que normal haver alguns lapsos, como uma falta que não é assinalada ou uma bola que sai sem se saber quem foi a última pessoa a tocar-lhe. Afinal de contas, estão 10 atletas em campo, acompanhadas por apenas dois (ou três) árbitros, que têm de ver a bola, pés, mãos, tempos... Por isso, é de louvar também todo o esforço e dedicação que demonstram em campo: também eles são uma parte importante na formação das pessoas/atletas.
Por agora, resta-nos dar os parabéns às SIMECQuinhas e equipa técnica e desejar-lhes igual determinação e coragem para os jogos que aí vêm.
Vemo-nos por aí, a caminho da final. ;)